SONHOS
Hoje minh'alma despertou sorrindo!
Como era alegre a vida! Todavia
Nada de novo trouxera-me este dia
Embora tudo parecesse lindo
Por que este encanto? Por que esta alegria
A transbordar do coração florindo?
Teria sido o sofrimento findo?
Finda teria sido a nostalgia?
Ah, não! Meus dias seguirão tristonhos
Minh'alma apenas refletia os sonhos
Nos quais eu te beijei feliz, dormindo
Mas a esperança de quem ama é infinda
E na certeza de beijar-te ainda
Hoje minh'alma vai dormir sorrindo!
VINAGRE
Até a morte eu vi
Passando pelo meu portão
Das minhas pobres tripas
Fiz meu pobre coração
Das minhas pobres tripas
Fiz meu pobre coração
A página cruel que eu li
A imaginar-me ao léu sem ti
As súplicas de dor sem Deus
Vertendo pelos olhos meus...
A imaginar-me ao léu sem ti
As súplicas de dor sem Deus
Vertendo pelos olhos meus...
O medo da manhã
Do dia que virá depois
Sozinho improvisando
A forma de não ser mais dois
Do dia que virá depois
Sozinho improvisando
A forma de não ser mais dois
Ardeu como vinagre, mas
Contive as minhas lágrimas
E estou quase feliz
Ao te responder adeus.
Contive as minhas lágrimas
E estou quase feliz
Ao te responder adeus.
*Música de Marçal Arreguy e José Otávio Fernandes.
ALGUM DIA
Tu terás nos teus olhos, algum dia
Novo brilho de amor e de esperança
Tu terás nos teus lábios de criança
A mais linda e sonora melodia
Eu verei, nos teus olhos, a confiança
A nobreza, o amor, a poesia
E os licores de luz e de magia
Beberei nos teus lábios de bonança
Olharás para mim... Dirás sorrindo
Que o amor é tão grande, que é tão lindo
Que é mais lindo que o céu, maior que o espaço...
Olharei para ti e, apaixonado
Vou falar-te de amores, inspirado
No bendito calor do teu abraço!
O PRÍNCIPE DOS ARCABEUS
Sim, Príncipe dos Arcabeus!
Comove-me a tua angústia
E teus clamores procedem.
Sim!
Ai, que infinita é tua mágoa!
Diante de ti, Job é um álacre felizardo
O Gólgota, uma colina qualquer
E o andaço genocida
Apenas um mal estar ligeiro.
Sim, Príncipe dos Arcabeus!
Existes, descrer não posso
E condôo-me de ti
Príncipe que és.
Entretanto, esgotadas as enciclopédias
Esmiuçados os mais veneráveis alfarrábios
E após exaurida a última fonte do saber
É amargo concluir:
Nem o mais reticente indício
É possível lobrigar
Da existência desse povo - os Arcabeus
De quem serias o delfim.
VEJO VOCÊ!
Quantas flores à beira do caminho!
Como exala perfume a madrugada!
Como é belo o cantar da passarada
Gorjeando as delícias do seu ninho
A alegria cintila na alvorada
Como hino de amor e de carinho
Nas montanhas o Sol vem de mansinho
Dar um beijo à rolinha despertada
Meu coração de amante vê na Terra
A beleza que a madrugada encerra
E eu sorrio contente como quê!
Nas campinas, eu vejo um só motivo:
Um sorriso, um olhar, um beijo esquivo
Um aperto de mão... Vejo você!
BUCÓLICA
Na face avessa desse Apocalipse
Aleluias aprestam-se ansiosas
Urdindo cânticos de apoteose
Na retomada edênica do Gênesis.
Já te vejo passeando pelos bosques
Do nosso amor, na terra prometida
Advinho teus passos nas campinas
Como quem busca um ninho, uma pousada.
Que chovam arco-íris dos teus seios
Inundando do leite colorido
Que coleia o cosmos suculento.
E quero ver-te rir cada manhã
Bolando truques, tecendo sonhos
Iluminando, assim, nossos caminhos.
OH, SINO!
Oh, velho sino soluçando triste
Nos teus sentidos dobres de finados
Alguma coisa de humano existe
No teu planger, nos teus sentidos brados
Eu sinto que tens alma, pois, da torre
Eu sinto que tens alma, pois, da torre
A tua voz se espalha e logo se conhece
Se estás chorando por alguém, que morre
Ou se oras do Ângelus a prece.
Ou se oras do Ângelus a prece.
Quanta tristeza tenho, quando vais
Espalhando nos ares a oração
Que tens contida nos teus tristes ais.
Espalhando nos ares a oração
Que tens contida nos teus tristes ais.
Na minha alma, sino, sinto então
Que as tuas badaladas são iguais
As badaladas do meu coração.
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